A história da família no mercado imobiliário evoluiu sob as mãos do pai dele, construindo mais de 2 milhões de metros quadrados nas décadas de 1990 e 2000, e na década de 2010, Murilo fundou a Verticale Desenvolvimento Imobiliário, um negócio de 300 milhões de reais em VGV, o valor geral de vendas, indicador mais utilizado na construção civil para definir o tamanho de uma empresa.
Aqui, vale um parênteses. Historicamente, a principal fonte de recursos para a construção civil no Brasil foram a caderneta de poupança e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, o FGTS, ambos com rendimentos controlados pelo governo federal.
Há pelo menos uma década ambas aplicações costumam render a taxas inferiores à da inflação no período. Por isso, no caso da poupança, há uma migração de recursos para produtos financeiros com rendimentos mais elevados.
No ano passado, mais de 100 bilhões de reais deixaram a poupança no Brasil, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança, a Abecip. Não à toa, a poupança deixou de ser a principal fonte de recursos para as construtoras brasileiras em 2023.
O posto foi tomado pelo mercado de capitais. Dos 2,06 trilhões de reais emprestados ao setor imobiliário brasileiro, 38% vieram de produtos financeiros como Certificados de Recebíveis Imobiliários, os CRIs, ou Fundos de Investimento Imobiliário, os FII, além de títulos bancários a exemplo das Letras de Crédito Imobiliário, as LCI, e as Letras Imobiliárias Garantidas, as LIGs. Há três anos, o mercado de capitais respondia por 24% dos recursos para habitação.
A poupança, por sua vez, colaborou por 36% do total financiado pelas construtoras, segundo dados da Abecip. Em 2021, a fatia da poupança chegava a 49%. Nos últimos três anos, a importância do FGTS manteve-se igual: 26% dos recursos para financiamento imobiliário vêm daí.
A mudança brusca na fonte de recursos para habitação provocou também uma mudança no dia a dia de Marchesini. Há pelo menos uma década ele tinha interesse no mercado de capitais como financiador da habitação – em 2015, ele fez uma pós-graduação no tema, já no Brasil.
De posse de conhecimentos sobre LCIs, CRIs e outras siglas, ele montou uma lista de gestoras sediadas na Faria Lima e saiu batendo na porta de cada uma delas para garantir recursos à Verticale.
O resultado foi de cinco captações e 100 milhões de reais em recursos para viabilizar a expansão da Verticale pelos próximos anos.
Conhecidos à frente de outras construtoras ficaram de olho no feito de Marchesini – e aí veio a oportunidade trazida pelo momento de aperto.